Para o trio pernambucano Zambrotta, um álbum de estreia não é apenas um conjunto de canções, mas o testamento de uma jornada. “Ensaio Sobre a Noite e o Dia”, lançado pelo selo Downstage, demorou seis anos para ver a luz do dia, um período marcado por hiatos, conflitos e uma profunda reflexão sobre o próprio ato de fazer arte. O resultado é um registro que usa as texturas do rock experimental para narrar a dolorosa e redentora odisseia de seus criadores.

Mais do que um projeto musical, o álbum funciona como um diário sônico da amizade e das crises que uniram e quase separaram Adner Andrade (voz), Lucas Emanuel (guitarra) e Renan (bateria). As nove faixas são o espelho de um processo regado a ansiedade, inseguranças e a luta para conciliar o sonho artístico com a realidade do trabalho precarizado. É um retrato honesto sobre a dificuldade de continuar existindo e, principalmente, de continuar sonhando.

Essa dualidade entre a sombra e a luz está impressa na sonoridade do disco. A banda navega com fluidez entre o post-rock, o shoegaze e o emo, usando cada gênero como uma ferramenta para pintar seus cenários. Em momentos mais solares, a energia é vibrante e ingênua; nos noturnos, o som se torna denso, cru e soturno. É a materialização da dicotomia que o título sugere, um “ensaio” contínuo em busca de respostas e de um lugar no mundo.

“Em cada canção estaríamos ‘ensaiando’ experimentalmente sobre como lidamos com os sentimentos”, explica o vocalista Adner. Essa liberdade permitiu à banda subverter as próprias referências, criando uma identidade que, embora dialogue com a cena dos anos 90, soa puramente autoral. O álbum se recusa a seguir fórmulas, preferindo explorar as nuances e os ruídos que a própria narrativa exigia.

Agora, com a obra finalmente compartilhada, o objetivo da Zambrotta transcende a divulgação. O trio busca devolver à arte tudo o que ela lhes proporcionou: um senso de pertencimento e compreensão. O desejo é que “Ensaio Sobre a Noite e o Dia” sirva como um espelho para quem o escuta, um lembrete de que, mesmo na solidão e na dificuldade, não estamos sozinhos em nossos sentimentos.

Ouça abaixo o disco da banda: