Com performance completa de ‘Temple of Shadows’ e clássicos da carreira, grupo se despede dos palcos por tempo indeterminado em apresentação memorável em São Paulo

O último domingo (3) marcou de forma definitiva a história do Angra, com o show de encerramento da turnê Temple of Shadows 20th Anniversary Tour – Interlude, em comemoração aos 20 anos do lançamento do disco Temple of Shadows, e a já anunciada pausa na carreira por tempo indeterminado. A despedida foi realizada no Tokio Marine Hall, em São Paulo, e contou com os shows de abertura do Azeroth (Argentina) e do Viper, ícone do metal nacional.
Ainda sem grande público na casa, o sexteto argentino foi o responsável por iniciar os trabalhos, apresentando um autêntico power metal muito bem executado. Com 30 anos de estrada e cinco discos de estúdio lançados, o Azeroth foi muito bem recebido pela plateia e entregou um show intenso.
A performance do Azeroth foi uma aula de power metal tradicional, com riffs de guitarra velozes e solos melódicos que se entrelaçavam com precisão. O vocalista Fernando Ricciardulli demonstrou grande alcance e potência, comandando as canções com a energia que o estilo exige. A banda mostrou um entrosamento notável, fruto de suas três décadas de atividade, e conseguiu aquecer os presentes com faixas de seu mais recente álbum e clássicos da carreira, provando ser uma escolha acertada para abrir uma noite tão especial.

Em seguida, foi a vez do Viper subir ao palco, já com um público mais numeroso e que se emocionou ao acompanhar a homenagem feita a Andre Matos e Pit Passarell, membros fundadores da banda falecidos em 2019 e 2024, respectivamente. A canção escolhida foi The Spreading Soul, executada em simbiose com a plateia e trazendo uma fotografia dos dois músicos juntos no telão. Living for the Night, com participação de Rafael Bittencourt, e Soldiers of Sunrise foram outros pontos altos da apresentação do quinteto paulistano, um dos precursores da extensa cena do metal nacional e que aproveitou a oportunidade para gravar um álbum ao vivo.
O Viper, uma verdadeira instituição do metal nacional, entregou uma performance que mesclou peso, melodia e uma forte carga de nostalgia. A banda, liderada pela guitarra precisa de Felipe Machado e pelo vocal seguro de Leandro Caçoilo, mostrou por que é considerada uma das pioneiras da cena, com uma energia amplificada pelo fato de estarem gravando um novo álbum ao vivo.

Com a casa quase lotada, eis que chega o momento mais esperado da noite. Sobem ao palco Fabio Lione (voz), Rafael Bittencourt (guitarra), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), formação já consolidada e marcada definitivamente na história da banda. Após uma breve introdução, Nothing to Say, um clássico do disco Holy Land, é a escolhida começar o show. Millennium Sun, do álbum Rebirth, e as duas partes de Tide of Changes, do recém-lançado Cycles of Pain, são responsáveis por inflamar o público, que responde com intensidade à performance dos músicos e ao som extremamente alto.
Na sequência, Lione anuncia aos presentes a execução completa do icônico disco Temple of Shadows, lançado em 2004. Do começo ao fim do álbum, o que se viu no Tokio Marine Hall foi uma conexão profunda entre banda e fãs, em um momento de comunhão, de fato, com as músicas sendo cantadas em uníssono. Todos os integrantes entregaram um espetáculo tecnicamente impecável, marcado profundamente pelo apelo emocional que a situação sugeria. Claramente, há uma forte conexão entre todos os músicos, o que naturalmente se estende para a plateia.
Spread Your Fire, No Pain for the Dead – com participação mais que especial da incrível Vanessa Moreno – e Late Redemption foram os destaques desta parte do show, sendo esta última fortemente celebrada pelos fãs, que cantaram a plenos pulmões os trechos gravados originalmente pelo gênio Milton Nascimento.
Ao final da execução de todas as faixas do Temple of Shadows, Rafael Bittencourt, único membro fundador da atual formação, dialogou com o público sobre a pausa por tempo indeterminado da banda. Entre depoimentos emocionados e perspectivas otimistas para o futuro, deixou a mensagem de que o hiato será importante para que o Angra se fortaleça ainda mais ao fazer esse movimento em um momento tão bom para o grupo.

Após essa breve pausa para conversar com a plateia, o show seguiu com a icônica Rebirth, também com participação de Vanessa Moreno, cantada com muita emoção por todos os presentes. Depois, Angels Cry, faixa-título do disco de estreia da banda, seguida por uma homenagem a Ozzy Osbourne, referência máxima do heavy metal falecido recentemente, com a faixa No More Tears. Por fim, o já tradicional medley de Carry On e Nova Era, dois clássicos absolutos, encerrou com chave de ouro o show de mais de duas horas de duração.
Com os fãs visivelmente emocionados e um clima de comoção geral, o Angra se despede temporariamente dos palcos com uma performance irretocável, digna de uma das maiores bandas de metal do planeta.
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Setlist Angra – Tokio Marine Hall – 03/08/2025
Parte 1:
1. Nothing to Say
2. Millennium Sun
3. Tide of Changes – Part I
4. Tide of Changes – Part II
Parte 2 – Temple of Shadows:
5. Deus Le Volt!
6. Spread Your Fire
7. Angels and Demons
8. Waiting Silence
9. Wishing Well
10. The Temple of Hate
11. The Shadow Hunter
12. No Pain for the Dead (com Vanessa Moreno)
13. Winds of Destination
14. Sprouts of Time
15. Morning Star
16. Late Redemption
Parte 3:
17. Rebirth (com Vanessa Moreno)
18. Angels Cry
19. No More Tears (cover de Ozzy Osbourne)
Bis:
20. Unfinished Allegro
21. Carry On/Nova Era
22. Gate XIII
Texto escrito por: Santiago Boyayan