
O Tokio Marine Hall recebeu uma noite dedicada ao power metal com três ícones do gênero em cena: Auro Control e Norturnall na abertura, Roy Khan relembrando os tempos áureos do Kamelot e Edu Falaschi (ex-vocalista do Angra) celebrando as duas décadas de Temple of Shadows, álbum que marcou sua carreira e uma era do metal brasileiro.
O destaque da noite foi, sem dúvida, a apresentação de Edu Falaschi. Ao lado da Orquestra Jovem de Artur Nogueira, o cantor entregou um espetáculo que muitos fãs esperaram por anos: Temple of Shadows ao vivo com arranjos sinfônicos, exatamente como sugerido nas gravações originais. A execução trouxe à tona o peso e a dramaticidade do disco de 2004, mas com uma camada extra de grandiosidade que só uma orquestra é capaz de fornecer.

Edu, aos 53 anos, demonstrou domínio vocal ao revisitar músicas que exigem potência e extensão, provando que os problemas vocais que enfrentou no passado ficaram para trás. Um dos momentos mais celebrados da noite foi a participação de Kai Hansen, ex-Helloween, que subiu ao palco para cantar The Temple of Hate, faixa que gravou no álbum original. A parceria reacendeu o espírito colaborativo do disco, com direito a gritos e aplausos intensos da plateia.
Outra convidada de destaque foi Adrienne Cowan, do Avantasia. A cantora norte-americana transitou com segurança entre o canto lírico de No Pain for the Dead e os vocais guturais exigidos nas faixas mais agressivas do álbum, impressionando quem ainda não conhecia sua versatilidade.
O encerramento da noite foi emblemático: após tocar faixas do disco solo Vera Cruz e outros clássicos de sua fase no Angra, Edu Falaschi reuniu todos os convidados e músicos para uma versão cheia de camadas de I Want Out, clássico do Helloween. Foi a catarse final de uma noite que misturou nostalgia, celebração e uma dose renovada de energia criativa no power metal.
Falaschi mostrou que a coordenação de um evento grandioso como esse é capaz de tirar o público de casa. O Tokio Marine Hall estava lotado, com diversos setores esgotados. O cantor se consolida, portanto, não apenas como uma das maiores vozes do metal nacional, mas também como um grande planejador de eventos junto ao seu time de especialistas.
Roy Khan revisita The Black Halo
Em uma das apresentações mais aguardadas da noite, Roy Khan, ex-vocalista do Kamelot, subiu ao palco para celebrar os 20 anos do álbum The Black Halo, obra que ajudou a consolidar o metal melódico no início dos anos 2000. Com uma presença de palco serena e carismática, o norueguês conduziu o público por uma performance tecnicamente precisa e emocionalmente carregada.
Acompanhado por uma banda competente, Roy entregou uma execução quase completa do disco, deixando de fora apenas algumas faixas. Músicas como The Haunting, Soul Society e March of Mephisto foram cantadas em uníssono pela plateia, criando momentos de forte conexão entre artista e fãs — muitos dos quais não viam o cantor ao vivo há anos.

A qualidade vocal de Roy Khan, intacta após décadas de carreira, aliada à teatralidade das composições, fez da apresentação uma verdadeira imersão no universo sombrio e lírico de The Black Halo. A performance cumpriu seu papel de aquecer o público para os shows seguintes, mas foi além: reafirmou o legado de Roy como uma das vozes mais marcantes do gênero.

Norturnall aquece o público com energia e técnica
Responsável por abrir a noite junto ao Auro Control, a Norturnall entregou uma apresentação intensa e energética, como já é característico da banda. Mesmo com o tempo reduzido por conta de problemas técnicos em uma das guitarras, o grupo conseguiu empolgar o público com faixas rápidas, cheias de peso e precisão.

Músicas como Reset the Game e Nocturnal Human Side destacaram a pegada moderna da banda, com influências de prog, thrash e industrial. O guitarrista Guilherme Torres, recém-integrado ao grupo, mostrou personalidade e domínio técnico logo em sua estreia no palco do Tokio Marine Hall, chamando atenção especialmente pelos solos velozes e limpos.
A curta duração da apresentação deixou um gostinho de “quero mais”, mas serviu bem ao propósito de aquecer o público para a sequência de shows. A Norturnall manteve o nível alto e provou que segue como um dos nomes mais consistentes do metal nacional contemporâneo.
