
O show solo de Kiko Loureiro em São Paulo, realizado no Tokio Marine Hall em 7 de junho de 2025, foi precedido por uma apresentação marcante da banda de abertura Andy Addams, que elevou o clima do evento com um repertório repleto de virtuosismo e referências ao rock internacional. O público foi aquecido com uma sequência de músicas que incluíram “Redemption”, “Black Moon”, “The Eyes of The Moon/When The Spirits Collide”, além de solos de guitarra (“Silver Tears”), baixo e bateria, além de “Everlasting Faith”, “The Warrior” e “Piedra de Fuego”.
O ápice da abertura veio com um mashup que reuniu clássicos do rock e trilhas sonoras de animes, como “Separate Ways” (Journey),”Eruption/Ain’t Talkin’ ‘Bout Love” (Van Halen), “Wait” (White Lion), “Under a Glass Moon” (Dream Theater), “Megan X Intro Stage”, “Saint Seiya – Pegasus Fantasy” e “Dragon Ball Z Opening”. O medley, executado com precisão energia, conquistou a plateia e preparou o terreno para a entrada de Kiko Loureiro.

O show de Kiko Loureiro, por sua vez, foi marcado por um repertório que percorreu todas as diferentes fases de sua carreira. Kiko trouxe faixas instrumentais do mais recente álbum, Theory of Mind, lançado em 2024, e revisitou composições de No Gravity, seu disco de estreia solo, que completa 20 anos em 2025. Mesmo sem palavras, essas peças evidenciaram a consistência técnica e a busca por identidade própria que sempre marcaram o trabalho do guitarrista.
Mas não foi apenas a música instrumental que conduziu a apresentação. Kiko também assumiu os vocais em Dystopia, faixa do Megadeth que marcou sua estreia na banda americana. E para os fãs do Angra, um momento de nostalgia bem articulado: Alírio Netto, atual vocalista do Queen Extravaganza e com passagem recente pelo Shaman, subiu ao palco para cantar clássicos como Nothing to Say, Angels and Demons e Rebirth. O reencontro entre a guitarra de Kiko e essas composições foi natural, sem forçar um revival.
O ponto mais esperado da noite foi a participação especial de Marty Friedman, ex-Megadeth e nome cultuado por sua fusão entre metal e escalas orientais. Logo em sua entrada, tocou o solo de Tornado of Souls, um dos mais emblemáticos da fase clássica do Megadeth. Depois, partiu para um improviso descontraído ao lado de Kiko, incluindo versões inusitadas de Asa Branca e Brasileirinho. A mistura soou mais como um tributo à música brasileira do que uma performance ensaiada, e funcionou dentro da proposta do show.
Entre os momentos mais intimistas, Loureiro surpreendeu com uma versão em voz e violão de Heaven and Hell, do Black Sabbath, em que demonstrou controle vocal e bom gosto nos arranjos. Outra passagem sensível foi a versão acústica de Late Redemption, do álbum Temple of Shadows, dividida com Alírio Netto. Ambos souberam preservar a carga emocional da faixa, ainda que em uma releitura enxuta.
Ao final, o que se viu foi um show solo mais seguro, e com mais espaço para colaborações e celebração de repertórios diversos. Kiko Loureiro parece ter entendido o que seu público busca: um equilíbrio entre virtuosismo, memória afetiva e musicalidade acessível. E, ao que tudo indica, ainda há espaço – e público – para quem quer assistir a um show de guitarra em 2025 em São Paulo.