
O Opeth fez do palco do Espaço Unimed, em São Paulo, um verdadeiro laboratório de emoções e surpresas na noite de 21 de abril de 2025. Longe de qualquer formalidade ou postura sisuda, Mikael Åkerfeldt e companhia mostraram que é possível ser uma das bandas mais respeitadas do metal progressivo e, ao mesmo tempo, rir de si mesmos — e de todo o universo do rock pesado.
Mikael estava especialmente à vontade, interagindo com o público em português e inglês, e arrancando gargalhadas ao afirmar que, se dependesse deles, seriam no máximo “uns gremlins do rock”, nunca “monsters”, em referência bem-humorada ao Monsters of Rock ocorrido dias antes. O vocalista ainda brincou sobre sua técnica de growl, dizendo que só recorre a ela porque, segundo suas próprias palavras, “não sabe cantar” — piada que só aumentou a simpatia da plateia, que claramente não concorda com a autodepreciação do sueco.

O setlist foi um dos pontos altos da noite, com escolhas inesperadas que fugiram do roteiro habitual dos festivais. Além de clássicos como “Ghost of Perdition” e “Deliverance”, a banda surpreendeu ao incluir uma participação especial gravada de Ian Anderson, lendário vocalista e flautista do Jethro Tull, que trouxe os sons de sua flauta para uma versão única da dificílima música “§7”, arrancando aplausos e olhares incrédulos dos fãs. O repertório privilegiou tanto faixas do novo álbum, o excelente “The Last Will and Testament”, quanto momentos emblemáticos da carreira, criando uma experiência dinâmica e imprevisível.
A atmosfera do show foi de comunhão. Entre solos intricados e passagens atmosféricas, era possível ver fãs se emocionando, especialmente nos momentos mais clássicos e melódicos do repertório. Não foram poucos os que se deixaram levar pelas lágrimas durante músicas como “In My Time of Need”, evidenciando o impacto duradouro que a banda sueca exerce sobre seu público.

O Opeth aproveitou o tempo de palco ampliado em relação ao festival para explorar nuances sonoras e improvisos, mostrando uma banda madura, mas ainda inquieta. A técnica apurada dos músicos ficou evidente em cada troca de dinâmica, com transições perfeitas entre os momentos mais agressivos e os mais contemplativos.
O público, composto por fãs de longa data e novos admiradores — muitos atraídos pela dobradinha com o Savatage —, respondeu com entusiasmo, cantando junto e celebrando cada surpresa do repertório. Mesmo com uma casa não completamente lotada, a energia coletiva compensou qualquer vazio físico, tornando o show ainda mais especial.
Ao final, ficou a sensação de ter presenciado algo realmente especial: um show que equilibrou virtuosismo, emoção e bom humor, e que ficará na memória de quem esteve no Espaço Unimed. O Opeth mostrou que, mesmo após décadas de estrada, segue reinventando a própria história — e proporcionando noites inesquecíveis para seus milhares de seguidores.